quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Serei sempre seu confidente fiel se seu pranto molhar meu papel."




Enfim, tudo organizado.

A obra de um terraço que começou em maio do ano passado e que deveria ter acabado em dois meses se estendeu até janeiro deste ano. Não vou cansar o leitor com os percalços dessa empreitada e muito menos lamentar o prejuízo que tive. Quero apegar-me a essa sensação boa de completude que me fez largar um pouco o trabalho e escrever... 

A primeira coisa que fiz assim quando a obra efetivamente começou foi esvaziar o meu escritório e levar toda a minha biblioteca para a casa de papai. Quando eu quero proteger algo muito precioso ajo sempre dessa forma. Isso me custou um dia inteiro de trabalho e três viagens com o carro arriado de tantas historias, álbuns, filosofias, física, contos e poesias. Esvaziei todas as prateleiras e um armário na certeza que em dois meses teria toda a minha biblioteca de volta e um terraço pronto. A construção, porém, se estendeu por oito meses e o meu mal estar começou a aumentar exponencialmente com o passar dos dias por estar vivendo numa casa sem livros e sem passado, pois, tudo o que existe nesse mundo que conte parte da minha história em letras ou em imagens estava na casa dos meus pais.

Em janeiro, grazadeus, fim de obra. Comecei o ano organizando aos poucos o escritório. Meus amigos não entendem porque não me desfaço dos livros que já li e certamente chamariam-me de louca ao ver alguns cadernos que usei ainda na adolescência mantidos sob os cuidados de um armário que se mantém sempre fechado. Ao fazer essa “mudança” mais uma vez percebi o quanto sou incapaz de aliviar o peso das prateleiras das minhas estantes ou aumentar o espaço do móvel do escritório onde guardo alguns registros feitos por mim e também alguns rabiscos feito pelas crianças.

Manusear esse tipo de material é muito diferente de arrumar um cômodo qualquer da casa. Gastei dias separando meus livros conforme o assunto, o autor e a minha idade ao abri-los pela primeira vez e deixei para a última viagem as brochuras preenchidas com a minha letra. 

Engraçado. Às vezes guardamos coisas que sabemos que não terão mais nenhuma utilidade para a nossa vida a não ser... olhá-las de novo. E de alguma forma (que não tem nada ligado à praticidade) apegamo-nos a elas. Quem sabe porque ainda é permitido guardar uma lembrança boa e até uma leve tristeza que de tão leve consegue ser bonita a sua maneira; ou ainda, conceder a nós mesmos alguns minutos para confessarmos que sentimos saudades. Recordar um momento é também compreender que devemos ser felizes igualmente naquele instante, pois aquele instante também passará. Assumir a nostalgia é nos dar conta que houve momentos perfeitos que passaram, mas que não se perderam e se a lembrança deles tornar maior a nossa solidão que seja uma solidão menos infeliz.

A coisa poderia ter sido assim bem racional e equilibrada se Chico Buarque não tivesse nascido e a vida não estivesse passando tão rápido e se abrindo realmente num feroz carrossel. Diante de tantos livros e cadernos que jamais serão esquecidos num canto qualquer, cantei.  E foi assim, ao som desafinado de minha voz cantarolando “O Caderno”, entre muito pó, fungos e lágrimas que consegui organizar todo este cômodo da casa. 

Cá estou eu agora. Mais calminha. Queria no início desse texto justificar porque estou me sentindo tão bem vendo as paredes coloridas com os meus livros e um armário grande, denso e fechado. Mas que bobagem a minha, não? Coisas assim simplesmente são.

(Sem nenhuma explicação).








11 comentários:

  1. Caramba, não tive direito a guardar muitas coisas por falta de espaço e isso me deixou desapegada mesmo...O que tenho são alguns bilhetes do Mazinho, algumas cartas da minha amiga de Brasília, alguns cartões de Natal...No momento estou sentindo falta das minhas fotos de infância...

    ResponderExcluir
  2. Nossa, como eu te entendo! Tenho quase tudo guardado, provas, agendas, cartinhas... não me desfaço de jeito nenhum. É muito bom olhar pra trás e ver como fomos felizes e, simplesmente, continuar sendo feliz, porque é possível, né? Bjs e parabéns pelo blog! Luciane.

    ResponderExcluir
  3. Luciana e Luciane,

    Uma que não guarda nada e outra que guarda tudo como eu...

    =)

    Muito obrigada pelos comentários

    ResponderExcluir
  4. Oi, Elika,

    Sóóóóóó issssoo?
    A gente vai lendo, crente que você vai contar uma de suas histórias mirabolantes e você só acabou de arrumar a estante?
    Vai pegar um dos seus escritos da adolescência e reescreva! Veja se você ainda pensa igual ou mudou radicalmente.

    Beijos, Elise.

    ResponderExcluir
  5. Elise,

    Não escrevia quando era adolescente. Só lia...

    Mas olhando para os meus cadernos cheio de resoluções de equações de segundo-grau e gráficos mal feitos creio que não mudei muita coisa não. =)

    Vou tentar arrumar mais histórias, porem acredite: arrumar a estante foi arrumar muita coisa aqui dentro.E deu um trabalho do cão.

    Por isso o texto.

    Mas pódexá, vou tentar arrumar mais um tempinho e me estender em outras histórias

    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Muito legal.

    Obrigado por ter aceitado a sugestão, valeu à pena.

    bjs

    ResponderExcluir
  7. Ando enferrujada, mas pelo menos ficou o registro.

    Obrigada pela força.

    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Ok, a Elise não ganhou uma historia mirabolante, mas seu texto vai certinho no ponto da dor e da delicia de "arrumar" os livros da gente. Coloquei aspas porque, no meu caso, eu sempre me perco em todos os caminhos possíveis e imagináveis e nunca termino a tarefa. Mas que é sublime, ah isso é!
    Andre Nakamura

    ResponderExcluir
  9. Né?

    Bom, pelo menos foi bolante...

    =P

    Muito gradecídis pelo comentário, Naka.

    ResponderExcluir
  10. Identificação total que eu tive. Adorei :)

    ResponderExcluir
  11. Que bom. Adoro quando eu encontro um par. =)

    ResponderExcluir